Ex-alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), todos formados em 1961, criaram um crowdfunding para apoiar iniciativas de professores e alunos de graduação.
Em 2015, o fundo – identificado como Projeto T61 de Apoio ao ITA – suportou 15 projetos selecionados em duas chamadas, com um total de R$ 275 mil. “Os resultados foram superiores à nossa melhor expectativa”, conta João Gomez, líder do grupo dirigente que ele chama da “hexavirato”. “Um triunvirato que virou seis”, ele explica.
Rafael Thiago Luiz Ferreira, professor da Divisão de Engenharia Mecânica do ITA, por exemplo, obteve recursos para adquirir uma impressora 3D open source que está sendo utilizada em projeto de customização de equipamentos para a confecção dos compósitos para drones. A T61 também financiou a compra de equipamentos para a preparação das vídeos-aulas (filmadora, equipamentos de som, computador e um sistema moderno de edição) que integram o projeto Sala de Aula Invertida, coordenado pelo Renan Edgard Pereira Lima. “A ideia é que os alunos tomem contato com a matéria antes das aulas, com base em uma metodologia de aprendizagem já utilizada nas universidades de Duke, Stanford, Harvard, MIT e Michigan, nos Estados Unidos”, explica Pereira Lima.
A ideia de criar um crowdfunding surgiu em 2013, quando uma greve de alunos paralisou o ITA por algumas horas, reivindicando reforma nos sistemas pedagógico e de avaliação. “Impactados”, os ex-alunos da turma 61 decidiram colocar sua experiência a serviço da escola.
Depois de várias rodadas de entendimento com a direção do ITA, num encontro com o Reitor interino Fernando Toshinori Sakane, em 2014, o fundo começou a ganhar forma. “Definimos o objetivo – incentivar os docentes do ITA financiando projetos que visem a melhoria qualitativa do ensino de graduação bem como envolver estudantes de graduação em atividades de iniciação científica – com quatro regras básicas para o funcionamento”, conta João Gomez.
A primeira regra é “não substituir o Estado” ou outras agências e entidades que já atendam a esses objetivos. A segunda é priorizar projetos que “maximizem o resultado”, ou seja, que tenham uma relação custo/benefício adequada. A terceira regra é ajudar a graduação, já que a pós-graduação “não está em perigo”, como diz João Gomez, por contar com recursos de agências de fomento. E a quarta é cobrar resultados, ou pelo menos um razoável grau de sucesso nos projetos.
Em torno desses princípios constitui-se o “hexavirato”. “Escolhemos utilizar o modelo de crowdfunding para arrecadar recursos que foi testado em chamadas de projeto da Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA). Os professores apresentaram seus projetos. Nosso grupo fez um levantamento para ver se existiam aplicações similares e se eram viáveis do ponto de vista financeiro. Montamos um orçamento com a disponibilidade de recursos declarada pelo grupo mantenedor do fundo, desenhamos um fluxo de demanda e cruzamos com a receita total anual e pronto: anunciamos os resultados”, descreve João Gomez.
“Eu mesmo cuido do relatório de aportes aos professores. Os professores guardam as notas fiscais de todas as compras, fazem a prestação de contas e ao final, se houver saldo, devolvem para o fundo. Um dos membros da T61 audita meu relatório. Nunca houve problemas já que as transações são regidas pelo mesmo princípio da Disciplina Consciente que pauta a relação entre os alunos, professores e a instituição.”
No primeiro semestre foram apoiados 10 projetos com um valor total de R$ 111 mil: quatro na área de química, dois na física e os demais na matemática, humanidades, mecânica e aerodinâmica. No segundo semestre foram selecionados oito projetos: quatro de química, dois de física, um de modernização da disciplina de imersão de voo, entre outros, com um total de R$ 164 mil. “Estamos fechando o ano com R$ 275 mil investidos. É um valor razoável”, reconhece João Gomez.
Os primeiros resultados foram apresentados em outubro de 2015, no encontro anual que os iteanos chamam de Sábado das Origens. “O resultado repercutiu tanto que chegamos a nos emocionar na apresentação”.
O sucesso da empreitada estimulou o “hexavirato” a colocar em ação a segunda parte do plano: ampliar a ideia do crowdfunding para outras turmas de engenheiros formados pelo ITA de forma a aumentar o aporte de recursos para projetos.
No início de novembro foi convocada uma reunião para ampliar o grupo. Estiveram presentes representantes de cinco turmas num total de 12 pessoas. “Decidimos criar uma iniciativa com perfil empresarial e com iteanos mais novos e mais competentes, já que o “hexavirato” tem, em média, 78 anos”, acrescentou João Gomez.
No encontro foi constituído um Conselho Diretivo formado pelos 12 presentes, que será presidido por Arnaldo Rodrigues Barbalho Júnior (T77). O Conselho ficará no cargo por um período de seis meses e um novo conselho, representando diferentes turmas, será eleito. “O critério de eleição para o conselho será meritocrático, já que todos nós temos uma origem comum – o ITA – e todos reconhecemos que a escola foi uma oportunidade fundamental em nossas vidas”.