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Classe C impulsionou venda de passagens aéreas entre 2002 e 2012

Classe C - Wikicommons

O cenário atual de crise econômica e desaceleração da aviação comercial contrasta fortemente com o recente fenômeno da popularização do transporte aéreo no Brasil. O número de passageiros em viagens aéreas no país cresceu 180% entre 2002 e 2012, conforme contabilizou a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). E esse crescimento foi impulsionado pelo aumento de renda da classe C, constatou a pesquisa Ascensão da classe média, disponibilidade de crédito e o impacto na demanda de transporte aéreo realizada por pesquisadores do Núcleo de Economia dos Transportes (NECTAR www.nectar.ita.br), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos.  

“Até 2005, a evolução do número de passageiros acompanhou a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), num desempenho até então tradicional em análises de crescimento das taxas do setor. A partir deste ano, começou a ficar mais clara a identificação de um novo tipo de consumidor”, afirma Alessandro V.M. Oliveira, coordenador do NECTAR e do projeto de pesquisa conduzido pelo pesquisador Leonardo Carvalho da Silva. “Com a crise atual, o setor aéreo passará por redução da demanda conquistada nos últimos 10 anos, período estudado em nossa pesquisa” – ressalvou Alessandro.

Os dados da pesquisa abrangeram rotas de destino de todo o país e foram analisadas a partir dos aeroportos em cada rota.  O estudo utilizou ferramentas estatísticas e modelo econométrico, tendo por base dados de demanda do transporte aéreo, crédito per capita, preço do quilômetro voado (yield), PIB, população, índice de Gini, entre outras variáveis disponibilizadas pela ANAC, Ipeadata, IBGE e Banco Central. Ao todo, foi utilizada uma base de dados com mais de 29 mil pontos amostrais.

No período analisado, ele sublinha, o transporte aéreo passou da condição de bem de consumo quase que exclusivo de classes mais altas e de executivos em viagens de trabalho para a de bem de consumo de uma população economicamente emergente que ganhou acesso a viagens de lazer ou turismo. “As companhias aéreas passaram a se preocupar com este público”.

O aumento da demanda incrementou o fator de aproveitamento do avião que, até 2002, viajava com uma média abaixo de 60% dos assentos ocupados, proporção que saltou para quase 80% em 2013. “A procura por passagens cresceu mais rapidamente que a oferta, e as empresas ficaram com operações bem mais eficientes”, ele diz.

O estudo também encontrou evidências de que, a partir de 2008, os preços da passagem aérea caíram em função da concorrência da Azul Linhas Aéreas que começou a operar naquele ano. “O aumento da concorrência e sua repercussão nos preços, assim como a facilidade de acesso ao crédito para financiar passagens, contribuíram para ampliar o acesso de consumidores das classes C e D a um bem até então exclusivo”, afirma Alessandro,

Ele lembra, a título de exemplo, que, em 2009, uma agência de viagens na favela na Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, vendia passagens aéreas no carnê, com opção de pagamento em até 12 vezes sem juros, sem comprovação de renda. De acordo com informações do site rocinha.org, mais de 90% das passagens eram vendidas para moradores da comunidade que desejavam visitar familiares em suas cidades de origem como João Pessoa, na Paraíba; Fortaleza, no Ceará; Teresina e Teresina, no Piauí.

“Todos esses resultados se mostram alinhados a indicadores que evidenciam a redução da desigualdade na distribuição de renda e o aumento do crédito das famílias”, ele enfatiza.

Os resultados da pesquisa sugerem que próximos estudos deveriam contemplar o movimento de passageiros, levando em conta a interação de períodos de alta estação e a influência da compra antecipada de passagens na demanda aérea. Mas há, no entanto, um fator que poderá adiar a análise: a forte retração da demanda e da oferta de passagens nos voos domésticos e também internacionais já registradas ao longo de 2015 e que tendem a se intensificar nos próximos anos. A expectativa das empresas aéreas brasileiras é fechar 2015 com um rombo de caixa de R$ 7 bilhões, de acordo com a Abear.

A pesquisa estará em breve disponível para download gratuito em www.nectar.ita.br/destaque. O Núcleo de Economia dos Transportes do ITA dedica-se à pesquisa aplicada sobre a economia do setor aéreo, por meio do uso intensivo de estatísticas setoriais e modelagem econométrica.  Os estudos envolvem demanda, concorrência e relação entre operação de transportes e infraestrutura. Anualmente, o NECTAR realiza Simpósios de Economia dos Transportes, com o objetivo de promover a geração e difusão do conhecimento na área de economia e gestão dos transportes. Os projetos do NECTAR contam com o financiamento da FAPESP e CNPq.